quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Por emigrar, sou mais portuguesa.

Irrita-me o choradinho muito chorado (perdoem-me a tautologia mas às vezes também é necessária) do português emigrante. Já disse aqui que tenho mais pena de quem quer sair e não pode, tenho mais orgulho de quem fica a tentar lutar por um país que agora está débil, cansado e triste.

Leio tudo o que há para ler sobre quem sai do ninho, sobre quem sai da zona de conforto para poder voltar, um dia. Mas escrever, explicar e contar, só o posso fazer sobre mim: e sei, e digo que custa, que os dias - uns melhores, outros piores - se equilibram uns aos outros. Mas em mim, a emigração teve um efeito curioso: além da cultura nova, das pessoas novas, dos portugueses que conheci fora de Portugal, emigrar fez-me gostar ainda mais do meu país - do mar, das tascas baratas que são boas e eu sei que são, das pessoas, das minhas ruas, dos meus sítios.

Quando estamos aí (em Portugal) achamos que os nossos políticos são os piores do mundo, que o nosso povo é o pior do mundo, que somos pequenos, brejeiros e tacanhos. Achamos que nunca vamos conseguir ir a lado nenhum, achamos que o pão, o café e a sopa são "coisas normais". Mas deixem-me dizer que não é bem assim.

Aprendi, desde que estou em Espanha, que os políticos também se podem encaixar nessa categoria dos piores do mundo, que as pessoas aqui, também estão perdidas e que as manifestações também se cantam ao som de Grandôla Vila Morena - no dia 16 de fevereiro milhares de espanhóis cantaram a letra de Zeca Afonso contra os desalojamentos, desde 2008, mais de 350 mil espanhóis receberam uma ordem de despejo, contra o desemprego que já ultrapassa os 25% e contra o orçamento de estado para 2013.

Emigrei porque não tenho espaço em Portugal, cresci aí, sou quem sou porque sou portuguesa e como diz Miguel Esteves de Cardoso "Ser português é ser capaz de se ser igual a com quem se está. Se temos uma virtude e capacidade, é essa. Temos uma costela de todas as carcaças que há no mundo." Quantas vezes não se cruzaram com estrangeiros? Pelas mais variadas razões, não interessa! E que idioma falavam? O deles. Espanhol, Inglês, Italiano, Francês, em Portugal somos primeiro o outro e depois nós.

Por estar aqui, percebi que os espanhóis não nos entendem mesmo. Não é uma questão de preguicite mental ou de territorialismo. Eles não nos percebem e ponto final. Os nossos idiomas derivam do latim, é certo, mas a língua espanhola foi-se simplificando ao longo dos anos, a nossa não. São 12 fonemas portugueses contra 5 espanhóis. E isso é maravilhoso para nós, é o que nos faz ser falantes no mundo. Ainda no outro dia, dizia-me um amigo "como é possível? Vocês escrevem "muito" mas na verdade dizem "muinto". E é verdade.

Eles (os espanhóis) são diferentes de nós em muitas coisas: são um povo mais feliz, menos saudosista, são patrióticos e acreditam que o país é feito deles e para eles. Nós somos mais do género "vai-se andando", andamos às turras uns com os outros sem saber bem para onde devemos ir. Os espanhóis têm o flamenco, cantado, alegre, com roupas coloridas, castanholas e a participação de todos os que ouvem com palmas e sorrisos. Nós temos o fado, triste, sentido, sombrio.

Sou hoje um bocadinho Álvaro de Campos "há sempre razões para emigrar para quem não está de cama".





11 comentários:

  1. Nãnã,
    Adorei!
    Beijinho grande

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  2. Obrigada, é bom escrever assim e saber que faz alguma diferença.
    Beijinho grande

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  3. Muito bom!!! É bem verdade o que dizes, estar fora faz-te sentir mais Português. Dás muito mais valor ao que é nosso assim como dás mais valor ao que os nossos logram.

    Resumindo, somos um pais triste cheio de alegrias, um cantinho na Europa que um dia dividiu o mundo.
    MEF

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  4. apre, mais uma vez DE ACORDO!!! e quando se emigra dá-se valor a muita coisa que antes não se dava, ou que até não se gostava... passo a explicar: peixe para mim era algo que comia pq tinha que ser, porque ia a casa de alguém e tinha azar com o menu, hoje a imagem de um peixe (sem vir numa caixa de cartão) faz-me salivar!! Mais, meses passei eu a evitar fruta, a comer mais uma vez porque sabia que devia, mas para mim era quase que um remédio... agora cá vejo que parte do meu budget gasto no supermercado (metade mesmo) é em fruta... posso não ter muito mais, mas a fruta alegra logo o meu dia!!!!!
    Emigração muda-nos por fora também, mas por dentro de uma forma gigante!!!! Tão grande que nos faz sorrir na rua quando ouvimos a nossa língua, ou falar com desconhecidos no metro só porque nos dizem "és portuguesa"...
    A saudade do sol, do mar, do café, das caras conhecidas é do tamanho do Mundo... Mas por ser tão grande permite-me fechar os olhos e quase sentir os cheiros, sempre com a sensação que afinal estão já aqui ao lado!!!!!!!!!

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    1. Jójo pinto de Leão2 de março de 2013 às 06:38

      <3 , Minha Querida,
      Por entre uma melodia de palavras, que retratam verdades às quais só chegamos quando largamos o "ninho", como tão bem descreves, devo dizer-te que escreves maravilhosamente bem! Situação, que para mim, não é novidade, pois sempre ouvi alguém de quem ambas gostamos (a nossa Querida Professora, aquela nobre Senhora e sabes de quem falo) tecer spbre ti os mais lindos elogios ... Dizia-me a tua Tia Luisa, ela escreve tão bem .... e eu leio e choro, choro, choro , ..... hoje decidi ler! Farta dos tais choradinhos , no limite ridiculos, de queixas ad eternum secularem, pensei é dia de ler .... ler palavras que falam, palavras que obrigam a pensar a para a reflectir sobre muiro mais que o momento , que é como um flash, como o tempo que não se mede mas nos acompanha tipo sombra ou espaço de descanso! Aqui neste teu lindo texto, vi palavras a sorrir, a cantarem a dizerem aos mal vividos, e inexplicavelmente burros, que o acto da simples existência, não se restringe ao bairro .... mas sim ao que cosntruímos, que almejamos que seja um Lugar! Um xi minha Querida Jójó

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  5. Muito bom Ana.
    Binha também gostei muito!
    Força a todos!
    Como n estou de cama, muitas vezes me assola a vontade de ir. Mas, para já, por cá continuo a luta! Por este grande, geograficamente pequeno, país! :)

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    1. Tu fazes parte dos que me fazem sentir bem quando vou, nem que seja só de visita.

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  6. Ana, adorei!!!!Muitas felicidades e muitos beijinhos.....

    Tia Susana Barros (amiga da Tia Cristina...lembra???)

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  7. Claro que sim, claro que me lembro. Obrigada, e cá estarei, sem cantar grândola vila morena, mas a queer muito esse país.

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