quinta-feira, 21 de março de 2013

José Sócrates e a RTP, o novo casal português.

Hoje achei sinceramente que os meus olhos estavam velhos, cansados e me enganavam de propósito. Penso que devo ter lido duas ou três vezes a notícia sobre o novo comentador da RTP. José Sócrates, o ex primeiro ministro, comentador político na RTP. Ainda agora acho que não é verdade. Não pode ser.

Sempre fui contra a privatização da RTP. Sempre defendi um jornalismo público, isento, capaz de servir os interesses do seu país de uma maneira justa. Sem lucros, sem salários milionários com objectivo de verdade e compromisso. Sempre achei que um país não deveria educar-se pelas estacões privadas e sim pelo serviço público. Sempre achei que o jornalismo teria um lugar relevante, e que um canal público era imprescindível.

Mas e agora? Não sei se a RTP ou Alberto da Ponte são ratazanas da troika, do governo que não explica, não fala e, cada vez mais, se enrola em estórias da carochinha. Ter Sócrates como comentador político é a mesma coisa que pôr Oliveira e Costa (ex presidente do BPN) a discorrer argumentos sobre a banca portuguesa. Ou o Relvas a falar sobre a sua experiência como estudante do ensino superior num programa dedicado ao absentismo escolar.

Dar tempo de antena a José Sócrates, numa estacão pública de televisão, para opinar sobre política, nossa ou dos outros, é patético. Roça a promiscuidade. E faz-me rir, gargalhar por dentro, com tanta estupidez junta.

4 comentários:

  1. Está Genial o teu artigo, mas a verdade é que esta a criar mais "Buzz" ter o filosofo como apresentador / comentador na TVI que os comentários do Gasper.

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  2. Na RTP dizes. Serviço público que presta serviço publico da treta. É aí que começa a discórdia. Não me parece que seja uma dessas notícias criadas para gerar buzz e distrair a atenção do Governo. Mas sim, foi tema de hoje. E porque estou cansada do Gaspar e das suas confusões impopulares acerca de medidas que, até ver, não levaram a lado nenhum.

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  3. Pessoalmente, para além de me desagradar ver este indivíduo a comentar seja o que for, causa-me um certo asco perceber que a política portuguesa rasteja num tal nível que semelhante falta de sabedoria e bom senso possa comentar pedagogicamente algo. Mas enfim...na análise, temos de ir por partes e sem paixões...
    Há um Sócrates político e há um Sócrates ex Primeiro Ministro de um país...
    Ambas coincidem parcialmente e difundem más recordações aparentemente a uma imensa maioria dos portugueses.
    No entanto, não nos podemos esquecer que se trata de alguém que alcançou 2 vitórias eleitorais, uma em maioria absoluta, e que quando perdeu eleições teve 30% de votos. Tudo isto representa portugueses e a sua confiança neste senhor.

    Depois, saber o que vai e em que modelo vai comentar... pelo que sei é com Nuno Moraes Sarmento, que também teve em funções governativas. Depois questionarmos porque razão não deve realmente ter direito a comentar numa televisão pública...

    Repara, parece-me em teoria, razoável que qualquer Primeiro Ministro, Ministro, Político, Empresário, Cientista ou Académico de relevância deva e possa comentar numa estação pública. Podemos gostar mais ou menos de ouvi-los, podem estar mais ou menos de acordo com as nossas maneiras de pensar, no entanto, em teoria todos deveriam saber o suficiente, quer seja por preparação académica/profissional quer seja por terem acesso a informação privilegiada, de comentar e ensinar a pensar os demais.

    A questão que se levanta, penso eu, é que aparentemente uma crescente maioria deixou de ver nele capacidade seja para que tarefa for... uma espécie de bode expiatório de uma crise que começou sensivelmente quando uns senhores muito liberais e revoltosos, acharam que em nome de uma liberdade garantida ao povo que não sabe o que com ela fazer, se encheriam de direitos e de dinheiro sem nunca trabalhar. E hoje assim estamos, filhos de uma democracia, que possibilitou acesso a todos, aquilo que é por definição de direito apenas dos mais capazes...E para que não seja mal entendido, eu explico muito superficialmente o que quero dizer... ser médico, deputado ou picheleiro, não é para quem é filho, vizinho ou sobrinho de alguém, mas antes para quem demonstra que é capaz de ser um dos melhores nesse papel...Assim, facilmente teríamos um país mais equilibrado, tanto em numerus clausus como em dedicação profissional... Salários mais equilibrados, menos imigrantes e etc... ( não teria fim curto este raciocino.)

    Voltando à RTP e ao Sócrates e por analogia ao parágrafo anterior, o meu ponto reside na teoria que um ex primeiro ministro deveria ser capaz de ser um excelente comentador, ( eloquência a este pelo menos não lhe faltará), e a excelência desse comentador numa televisão pública deveria também ser função da sua capacidade de ensinar o povo, o menos enviesado possível pela sua doutrina, mas antes por visões globais de cada tema. Explicar até as dificuldades de governar, que se calhar teriam muito a confessar !!

    Em teoria, seria de esperar que o convite da RTP fosse o certo. Pessoalmente a mim, a ti e a muito gente, choca o convite, não gostaremos de ouvir, não concordaremos, rimos para não chorar e revoltamo-nos a horas indecentes em posts de internet... Mas pensemos de outra forma, pensemos contra nós... Não seremos nós verdadeiramente os culpados de tudo isto !? Enquanto a passividade de apenas comentar, de assinar petições e de permitir que quem decida, continue a decidir...
    Pergunto, quanto tempo durariam governos, administrações, corruptos e incapazes se o Povo realmente fosse quem mais ordena...

    A RTP, e todas as outras, convidam por conveniência, por pagamentos de favores e por compadrios. Raras serão as vezes em que o convite é por intrínseco valor... Mas quem liga e ouve, quem alimenta o share de audiência e os segundos de publicidade, convida e mantém também... Certo é, que numa análise curricular "Relviana" de todos eles, nunca encontraremos justificações para não se convidar.

    É exactamente este o risco da democracia, é que qualquer um pode chegar a Rei !!

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    1. Concordo contigo Frederico. Mas andamos desconfiados, desacreditados e sem saber bem qual a dança certa para esta música europeia (desculpa-me a metáfora mas faltam-me as palavras). Uns manifestam-se, outros saem sem olhar para trás, outros escondem-se à espera que tudo acabe.
      A verdade é que Sócrates é o bicho mau, é o nosso "bode expiatório" para tudo isto que acontece e os portugueses com todos os defeitos que têm, guardam em si a memória de quando tudo isto começou- o ex primeiro ministro personifica a troika, o FMI, a dívida pública e tudo o que isso trouxe ao longo dos últimos anos. Para além de tudo isto mudou-se, emigrou de malas e bagagens. E volta, para a RTP, estação pública, para comentar o estado do país. Audiências à parte, eu até acharia bem ouvi-lo, uma vez, duas até, para perceber, ou para que ele tentasse explicar, porque chegamos aqui. Ouvir a outra parte torna-nos sempre mais fortes, mas um programa semanal, parece-me de mais. O objectivo, sei perfeitamente qual é. Mesmo com tantas petições, mesmo com o facebook cheio de Sócrates demonizados, todos, ou a maior parte, estarão sentados, à espera para o ouvir.
      O que fazer? O que fazer com este país? Tens toda a razão, não se faz alguém pelas pessoas que tem em casa, mas é um mal comum, geral.
      O povo parece-me adormecido, mais do que adormecido, parece-me perdido. Lá vai acordando de vez em quando, mas rápido se perde. Com medo de piorar.

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