segunda-feira, 29 de abril de 2013

O que eu leio #2

Não tenho o hábito de ler livros, normalmente devoro-os, em poucos dias, dependendo do número de páginas e nunca do seu conteúdo. Leio de tudo: desde "As cinquenta sombras de Grey" a "Ensaio sobre a lucidez", de "Marketing 3.0" a "Explicações de português", de "O principezinho" a "Ana Karenine". Não sou esquisita, nem muito nem pouco.
Além do meu distúrbio literário tenho em mim uma espécie de conselheira livreira: não são assim tão raras as vezes em que me pedem conselhos sobre livros e quando gosto do que li, vendo melhor do que qualquer fnac, bertrand e wook juntas.

Tal como nos filmes, detesto repetir-me naquilo que leio. Conheço quem diga que, de todas as vezes que vemos ou lemos, um filme ou um vídeo, as histórias são diferentes. Mas a minha pressa em ler e em não repetir-me tem explicação - é que acho, sinceramente, que não tenho vida suficiente para ler tudo o que quero. E isto é mesmo verdade. Costumo entrar num estado de ansiedade vergonhosa quando tenho um livro novo em casa e ainda vou a meio de outro. Mea culpa.

De qualquer maneira sim! Um livro é um livro novo em cada leitura e em cada fase da vida: ora pensem lá n'O Principezinho? Saltar de planeta em planeta não tem o mesmo significado aos 16 que aos 26.

E hoje acabei pela segunda vez o Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Lembro-me quando o li pela primeira vez de não ter achado muita piada. Regular, mediano, deve ter sido o que pensei. E que analfabeta era. Huxley é um génio literário reconhecido em todo o mundo e esta obra, de 1932, podia muito bem ter sido escrita hoje mesmo.

Tudo gira à volta da bokanovskização - um processo de estabilidade social assente em 3 máximas: comunidade, identidade e estabilidade, onde o segredo da felicidade está em gostar daquilo que se é obrigado a fazer. E isto consegue-se de forma condicionada, ou seja, "fazer as pessoas apreciar o destino social a que não podem escapar".
É difícil explicar este livro e como me fez pensar em verdades que temos como absolutas. Huxley divide opiniões e mata o suposto saudável estado familiar em que vivemos: cria um mundo paralelo, futuro, onde as pessoas são condicionadas psicologicamente e biologicamente, dividido em castas, com embriões "decantados", perfeito na sua criação artificial onde "cada um pertence a todos os outros". Com ideologias ministradas durante o sono: "actualmente toda a gente é feliz" - ouvido 150 vezes, todas as noites, durante 12 anos.

Descreve os "perigos da vida familiar": um "mundo cheio de pais" e cheio de mães e de tios e de primos e de irmãos, "cheio de loucura e suicídio". Um mundo cheio de maridos, mulheres e amantes, de famílias e monogamias, de sentimentos exclusivos e "a concentração de interesses por um único assunto". Um mundo que tinha uma coisa chamada democracia "como se os homens fossem iguais".

Neste livro nada é coincidência, nada fica por dizer e quanto mais se lê mais se quer saber: ainda que esta seja uma versão utópica (?) ou um género futurista (?) são os nomes dos personagens que nos prendem à realidade: Marx, Freud, (Henry) Ford, Wells e Pavlov.

"A sanidade é um fenómeno raríssimo" diz Huxley, e esta obra, é absurdamente sã, absurdamente genial.



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