domingo, 5 de maio de 2013

A FAP não é de estudantes nem para estudantes

Não conhecia o estudante que morreu no queimódromo e muito menos tive, na minha altura de estudante, alguma relação com a Federação Académica do Porto. Nem muita, nem nenhuma, aliás, detesto carneiradas e, não faz parte do meu feitio adorar federações, associações e outras coisas acabadas em ões. Esse tempo já passou.

Tenho lido as notícias acerca deste assunto. Umas deixam-me incrédula, as outras fazem-me rir. Como sempre, o Jornal de Notícias lidera, com bastantes pontos de avanço, o sensacionalismo da questão: quanto mais podres existirem, quanto mais chafurdarem na dor da família, quando mais derem o beliscão pelas costas, mais jornais se vendem, mais debates estapafúrdios se realizam, e quem os lê, vai esquecendo o que aconteceu. A notícia da morte do estudante vai ficando morna portanto, seguiremos para outro lado, até que não sobre mais nadinha para escarafunchar, bitaitar (de bitaites) e esgravatar.

Os pais falaram, a faculdade onde estudava Marlon também, o reitor da Universidade do Porto também, e a FAP também: e como era de prever uns pediam o cancelamento da queima das fitas, outros não.

Se fosse da minha família saberia bem o que pensar, mas não é. E não podemos cair em romanticismos e jurar que o faríamos, em qualquer situação, em qualquer altura, sob qualquer juramento e em todas as mentiras. Não podemos ser idiotas (ingénuos) e esperar que as opiniões sejam iguais e desatar a insultar quem não pensa o mesmo que nós. É só abrir a página criada ontem, onde se pede justiça pelo Marlon, no facebook, que os insultos, palavrões, erros ortográficos e idiotices saltam como pipocas.

Há duas coisas distintas: pensar com a razão ou sem ela (há ainda outra forma de pensar mas não é para aqui chamada) e todos os que frequentamos a queima, os que nunca foram e os que só ouviram falar, sabem que não se trata de umas noites em que um grupo de estudantes se decide juntar para beber uns copos, fumar umas coisas, e dançar até cair. Não é um encontro festivaleiro onde, por acaso, se ouve música, com bandas conhecidas e tudo. Não. E como seres pensantes todos sabemos que, por não ser uma festa na casa do vizinho, não pode ser cancelada. O último relatório de contas, no site da FAP, diz-nos isto mesmo: 1.980.000.00€ de despesas e 2.456.000.00€ de receitas. Não é propriamente o mesmo que dizer "esta pago eu, para a próxima ofereces tu".

Os que defendem o cancelamento da queima já devem ter desistido de ler o que escrevo, mas exactamente por não ser jornalista, não dever nada a ninguém, e por escrever o que penso, vou continuar a fazê-lo.

A queima não podia ser cancelada mas a FAP podia ter feito alguma coisinha mais. Uma música ao som do Marcelo D2 parece-me amoroso, mas não chega, ou melhor, não chegou. E não chegou porque a Queima das Fitas do Porto não é organizada pela Super Bock (se bem que já faltou mais): é organizada pela FAP e porque quem morreu, para além de fazer parte desta federação, era estudante.

E como gosto dos is com os seus devidos pontos fui dar uma espreitadela ao site da FAP. Confirmaram-se as minhas suspeitas (só me surpreenderam os erros ortográficos e as gafes): é mesmo um organismo pensado para os estudantes e, para que não digam que não sou justa, transcrevo as palavras "Esta instituição, com 22 anos de existência, é constituída por 27 associações, fiéis depositárias dos interesses dos seus estudantes, que são mais de 60.000." Diz ainda que "a FAP precisa de estar junto dos estudantes para que estes se identifiquem com a estrutura" e que "desafio, coragem, responsabilidade, presença, serviço... Estas são as forças que impulsionam o mandato de 2013 da FAP."

E porque disse acima que a queima não era um jantar em casa de uns amigos teimo aqui comigo que os órgãos desta instituição se deviam ter esforçado um bocadinho mais.
Mesmo que o lema desta festa seja "de estudantes, para estudantes" tenho sérias dificuldades que me continuem a convencer disso mesmo.

7 comentários:

  1. Ana, um texto verdadeiramente fenomenal.

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    1. Obrigada Inês. Às vezes é preciso agarrar o touro pelos cornos e chamar as coisas pelos nomes

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  2. estou ainda na dúvida se concordo contigo ou não........ LOL
    Infelizmente, a queima não é de todo PARA estudantes... é organizada por eles sim, mas infelizmente com agendas próprias (o que quer uma carreira política, uma desculpa para faltar às aulas, ou meter alguns trocos ao bolso).
    A única relação que tive quando estudante com a FAP foi a clássica "queria dois bilhetes para dia 2 por favor" e nada mais!
    Mais conheci os que viveram dela ao contrário de para ela, que concorriam para ter um "estatuto" (que nunca entendia bem) ou os que eram amigos dos que "controlavam" e com isso havia de tudo, desde o clássico free pass (grátis), a barracas de graça ou jantaradas que "a FAP paga".
    Tudo isso estava errado... e esmiuçando vi que este história da despesas e receitas... muito de pouco verdadeira tem! Muita despesa não é bem real (o amigo do amigo por favor não deveria contar) e as receitas essas... Ui deviam ser 3 vezes maiores!
    Não é como dizes e bem a festa em casa do vizinho, mas bolas, é preciso ver que algo grave para além da clássica bebedeira exagerada aconteceu, que alguém a serviço de uma dita instituição perdeu a vida... E a festa segue? só falta dizer "os cães ladram e a caravana passa" se pedir cancelamento é demais? eu sei que se fosse estudante das 2 umas: ou diria POR FAVOR NÃOOOOOO; ou não me veriam no recinto, qual das duas? não sei mesmo!
    Mas sei que este estudante morre nas portas da queimas, "ao serviço" dela, e não acho certo a festa continuar, que os que ganham ganhem mais ainda, e que umas capas pretas no chão e um "ai que tragédia" aconteça como se fosse a resolução, que não há!
    O que fazer não sei, o que eu faria também não, mas sei que se fosse um dos "meus" ouvir em casa a música vinda do queimódromo me iria por louca......

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    1. Bem sei que é um tema delicado. E as posições não são brancas ou pretas. Existem muitos cinzentos, quanto mais não seja porque estamos a falar da vida de uma pessoa. Mas é preciso ser-se razoável. Tanto para um lado como para o outro.

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    2. Pois, neste tema acho mesmo que estou no cinzento...

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  3. Ora aí está.. Parabéns:) brutal!

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  4. Nã,
    Ainda não tinha lido :(
    A FAP não quer saber dos estudantes, só se interessa pela receita do alcool!
    Bjsss

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