quinta-feira, 9 de maio de 2013

A loucura Ibérica

Há uns tempos atrás escrevi um texto sobre como era difícil ser português, como não era fácil ser português. Agora, depois de meses noutra realidade, percebo que a questão não é ser ou não português, mas sim de que perspectiva analisamos a coisa. 

A verdade é que saí de Portugal em plena crise e entrei em Espanha quando se começou a afundar - tenho um galo do caraças -. As comparações são inevitáveis, e cada vez mais tenho a certeza que, se me mudar de malas e bagagens para qualquer país do Sul da Europa, os problemas vão repetir-se assustadoramente. É como viver duas, três vezes (as que forem) a mesma realidade.

Espanha é um país incomparavelmente maior, com uma economia incomparavelmente competitiva, mas quando penso em Portugal, e os ponho lado a lado, as diferenças não são assim tão enormes como eu achava que seriam. E o mais engraçado, se é que se pode pôr engraçado nisto, é que estão bem mais atrás do que nós, no que diz respeito a enfrentar tudo isto. São bebés, e nós já adultos. Passo a explicar: estou alérgica, se é que se pode estar, a conceitos como crise, desemprego, impostos, austeridade e apertar o cinto. Lido com ele há já alguns anos, eu e os portugueses. Por outro lado, aqui em Espanha, ainda existe a indignação total, e espero que continue porque o efeito "já não quero saber" é perigoso. Aqui, deram-se conta do desemprego, das cunhas e das famílias que não têm como sobreviver, das mães que abandonam os filhos porque não têm como dar-lhes de comer, dos ocupas que têm as suas próprias casas a cair. Estão desacreditados, completamente desacreditados. Os chineses e o seu comércio são ameaças constantes, os cortes na educação geraram, hoje mesmo, uma greve em todo o país, o desemprego, entre os jovens, ascende a números assustadores. 

Hoje aprendi uma palavra nova em espanhol: enchufismo. É o equivalente à nossa cunha. E porque é quando se chateiam as comadres que se sabem as verdades, começaram a perceber que nem todos os trabalhos se conseguem de forma justa. Isto acontece em Portugal, é inegável, e quanto de nós sabem disso. Mas a um país incomparavelmente maior correspondem problemas incomparavelmente maiores. 

Faz hoje, precisamente hoje, 3 anos que a economia espanhola começou a decair: numa reunião, de madrugada, em que os ministros da economia e das finanças do Eurogrupo com o governo de Zapatero tomaram decisões que os trouxeram até aqui. Nessa altura, Espanha tinha um défice de 11,2% e uma taxa de desemprego de 20,15% (4,6 milhões de pessoas). Depois disto, do pacto europeu de estabilização financeira (Portugal também faz parte), Zapatero anuncia cortes e a realidade é a que já se sabe. Passaram de uma economia de incertezas a uma economia de medo.
Se em 2007 a maior parte dos espanhóis acreditavam na União Europeia, hoje as crenças estão viradas ao contrário: em vez de borbulha imobiliária, culpa-se a borbulha do euro.

Inimigos de estimação ou irmãos de sempre, a verdade é que Espanha e Portugal se parecem, e ultimamente as razões estão no desequilíbrio e nos problemas Ibéricos que estão longe de estar resolvidos.

1 comentário:

  1. Os problemas de Espanha são bastante distintos dos de Portugal, entendo o conceito, mas não estou de acordo com a base. Sim, "los enchufados" existem principalmente no Sector Público, mas esse problema é global, afinal assistimos ao Bush Pai e Bush filho como presidentes dos EUA e continuam a ser a maior economia do Mundo.
    Espanha tem problemas vários:
    (i) As comunidades são independentes do estado ou governo central, são tão independentes que podem criar dívida (no final das contas a divida = déficit) e no caso de não conseguirem assumir as dividas o estado deve responder por elas. Só agora se começou a controlar esse problema.
    (ii) Se cada comunidade é independente e o presidente dessa comunidade e os respectivos "ayuntamientos" ou câmeras municipais têm que ser eleitos, como se ganha votos? Investindo na sua localidade. Ou seja, Povoações com 100 habitantes com polidesportivos, teatros, piscinas. Este investimento melhora os “Pueblos” e cria os famosos trabalhos de construção (3/4 anos) enquanto o edifício se constrói e todas as empresas que se desenvolvem á volta.
    (iii) Investimento Público “a lo bestia”, a cidade da imagem em Valencia, o Maior Hospital da Europa numa população de 84 mil habitantes, as estações de AVE (combio de alta velocidade) que nunca se utilizaram e evidentemente os 54 aeroportos, sim 54, alguns deles nunca viram um avião. Existem evidentemente mais exemplos. Todo este investimento aumenta o PIB e o emprego em fase de “development” evidentemente á custa de dívida. Apesar da dívida sempre têm um impacto positivo no turismo, a cidade da imagem é lindíssima, esperamos todos que algum dia esteja terminada.
    (iv) Espanha tem sensivelmente 50 milhões de habitantes, no entanto e segundo informação do INE (instituto nacional de estadística) em 2011 existiam 200 milhões de casas, ou seja, em media cada Espanhol tinha 4 casas. Sim quatro casas por pessoa.
    (v) E um dos outros problemas sector público VS sector privado, este problema sem dúvida similar ao nosso.
    No entanto nem tudo é mau, a economia tem perspectivas de crescer em 2014 e existem empresas a investir em España, um exemplo pequenino são os 64 mil milhões de Euros no famoso Euro Vegas aqui em Madrid (qual é o valor da Dívida Portuguesa?) que terminaria a a primeira fase em 2017. A capacidade que España teve de não necessitar de regate, salvo para os bancos mas não é a mesma coisa que resgatar um pais. Depois temos as negociações com a EU, têm algo mais de força que nós, conseguem ter melhores condições, mais tempo para descer o Déficit, etc. Depois têm tudo o que um Turista pode necessitar, têm Praias, têm duas das cidades mais trendys da Europa, têm montanha e têm neve. ¨
    Não tenho grandes dúvidas que Espanha em 2 / 3 anos está “back on track”, entender que isto não significa que voltará a ser o mesmo, nunca vai voltar a ser igual.

    Ora em Portugal não existe o problema das comunidades, com exceção da Madeira , o Problema foi mesmo a má gestão do Estado, o exagero de funcionários Públicos e as suas constantes regalias assim como a falta de investimento público em projetos de relevância. Não queria deixar de referir que uma coisa é certa, temos a melhor rede de autoestradas de todos os países que conheço todas elas pagas pelos nossos impostos e por contração de divida e como seria de esperar depois pagos pelos nossos salários, esses sim já livres de impostos. Um pequeno exemplo de como as nossas autoestradas foram um bom investimento, quanto tenho oportunidade de ir a Portugal desde Évora (A7) ate ao Porto tenho o privilegio de ter um circuito fechado e em perfeitas condições com menos carros que aqueles que participam nos campeonatos de F1, é verdade que apanho sempre algum susto que provem de um “BIP” produzido pelo aparelho da via verde, depois do quarto BIP fico habituado.
    Amo Portugal, tenho orgulho do meu pais, tenho orgulho na nossa história única, tenho orgulho de ser Português, mas o futuro de Portugal não o vejo tão claro.
    MEF

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