segunda-feira, 13 de maio de 2013

Boa dose de educação

Todos, ou quase todos, crescemos a ouvir que devemos ter respeito pelos mais velhos. Isso era uma das verdades irrefutáveis que figurava na lista top 5 de "como educar uma criança" perspectivada pelos meus pais, uma lista pensada durante anos para que eu e os meus irmãos não nos tornássemos nuns animaizinhos indomáveis e eles -os meus pais- não se tornassem alvos daqueles olhares gozões, cheios de "eu bem te disse" quando entraram na loucura de ter 5 filhos. 

Não cumpro todos os requisitos de filha bem educada, nem me parece que algum dia chegue lá. Mas que todos os santinhos me caiam em cima se esta não é uma máxima que cumpro todos os dias da minha vida. Respeito os mais velhos, em tudo e sempre. Bem, agora, quase sempre. Porque também me sinto no direito de ser respeitada. Não é uma questão de equidade, é uma questão de sociedade.

Pois bem. Sempre andei de transportes públicos. Toda a vida. Desde quando não tinha idade para conduzir, até bem depois de ter idade para conduzir. Tirei a carta de condução tarde mas nem o facto de ter carro próprio me impediu de ir para determinados sítios de autocarro. É uma questão de conforto. E porque raio é que misturo os transportes públicos e o respeito pelos mais velhos nisto que estou agora mesmo a escrever? É que eu acho sinceramente, e desculpem-me a sinceridade (se bem que nunca se deve pedir desculpa por se se sincero) que os mais velhos andam a precisar de uma boa dose de boa educação. E, de vez em quando, eu não me importo de dar.

E foi o que aconteceu hoje. Talvez por ser segunda feira, saltou-me a tampa. 
Estava à espera do autocarro, fui a primeira a chegar, estava um calor infernal e entre abanar um papel qualquer que tinha dentro da carteira para fazer vento na minha cara maquiada ou borratada, entre beber água e entre esperar pelos minutos que não passavam, foram chegando mais pessoas. Chegou o autocarro - uma miragem, um desejo nunca tão esperado, ar condicionado - e a entrada num autocarro faz-se com respeito. Ai faz-se sim senhor. É por ordem, por ordem de c-h-e-g-a-d-a. Eu eu dou a minha vez se me apetecer, dou a minha vez a mais velhos, a mais novos, a assim assim, quando quero. Porque fui a primeira a chegar. Ponto final. 
Mas hoje havia uma senhora, arranjadeca, com tacões, provavelmente obrigada a andar de autocarro pela crise, que achou que se tratava do seu motorista particular, com tamanho de limousine e mais ninguém à sua volta. Tive, eu não queria mas teve que ser, que lhe dizer, no meu espanhol manhoso, que havia uma fila e que a fila começava atrás de mim. Afinou a cara, apontou o nariz para o mais alto que conseguiu e perguntou-me se eu não tinha respeito pelos mais velhos. Sorri e disse que sim ao mesmo tempo que deixei passar a senhora que estava atrás de mim, essa sim, bastante mais velha e com algumas dificuldades para andar. 

Que raio de pergunta. Que raio de lugar em que as pessoas se põem. Voltou para o fim da fila. Com vergonha. Calada como um rato e com os olhos todos postos nela. 
Vamos lá ver se nos entendemos: sim, tenho respeito pelos mais velhos quando acho que devo ter, quando quero ter, o que resumidamente vai dar à mesma coisa. Não, não tenho que deixar passar à frente alguém que tem mais 20 anos que eu, só porque eu pareço que tenho menos 10 do que realmente tenho. 

E depois, bem, isto de andar de autocarro tem que se lhe diga. Desengane-se quem pensa que é um sítio comum sem regras ou hierarquias. Experimentem, se têm menos de 30 anos, sentarem-se na parte da frente. Nananinanão. Levam logo com uma olhadela "sai lá daí que tens perninhas para andar até à parte de trás". Depois há, como não podia deixar de ser, o "finjo que estou a dormir" é vê-los a fechar os olhinhos quando entra alguém que, de facto, tem que estar sentado nos lugares de prioridade. Andar de autocarro pode deixar de ser apenas um meio que transporta do lado A ao lado B, é todo um mundo novo de comportamentos sociais que deviam ser explicados. 
Alguém me explica por que demónios não posso abrir a janela? Mesmo quando está frio? Ou é suposto gostar de estar quentinha apesar de tudo? - este apesar de tudo dispensa explicações, acreditem em mim.

E não me venham com tretas, com conversas fiadas de que não há esperança para os mais novos que não respeitam os mais velhos. A mim, sempre me ensinaram que não há melhor educação do que aquela que vemos nos outros. Quando somos crianças a tendência é para imitar (vem de mímica) e não para aceitar teorias fabulásticas (fabuloso+fantástico) só porque são os mais velhos que o dizem.

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