sexta-feira, 10 de maio de 2013

O que eu leio #4

Uma das coisas que trouxe comigo quando decidi emigrar foi um livro. Pequenino. Com poucas páginas. Nem mesmo o peso a mais e a vergonha de abrir a mala em pleno aeroporto para tirar o que tivesse que ser - juro que nesse momento só me apetecia gritar "Como? Digam-me como vou sobreviver sem as minhas coisas?" me fez deixar o pequerrucho em terra. Mas a verdade é que sobrevivo, sorte para as minhas irmãs que usam e abusam dos meus pertences queridos.

Se calhar esta introdução que acabei de escrever não é a melhor. A minha credibilidade enquanto leitora vai deixar alguma coisa a desejar porque o livro de que falo ali acima, entre tantas outras coisas, ensinou-me que as coisas (aqueles materialismos tão agarrados à minha carne) não são assim tão importantes. 

Continuando...trouxe esse livro comigo porque me ajudou numa fase meia cinzenta (põe cinzento, preto, muito preto nisso) da minha vida. E acredito que os livros se encaixam nos momentos e que cabem a todas as pessoas.
Tem um título invulgar: terças com Morrie. E basicamente é sobre um estudante que descobre que o seu professor está a morrer e, decide, ir visitá-lo, como diz o título, às terças feiras. Conversam, e é basicamente isso que fazem. Morrie, o professor, vai contando as suas histórias, em flash black, acrescentando um tema novo, cada terça-feira. Fala sobretudo das expectativas da vida, da dificuldade em aceitar a velhice, a morte, da continua obsessão pela juventude, da importância a coisas sem importância.

"Ah, se fosse novo outra vez! Nunca ouves ninguém dizer: "Gostava de ter sessenta e cinco anos."
Sorriu.
"Sabes o que isso reflecte? Vidas insatisfeitas. Vidas incompletas. Vidas que não encontraram sentido nenhum. Porque se encontrares sentido na vida, não desejas voltar atrás. Queres ir para a frente. Queres ver mais, fazer mais. Estás mortinho para chegar aos sessenta e cinco.
"Ouve, tens que saber uma coisa. Todos os jovens têm que saber uma coisa. Se estiveres sempre a batalhar contra o envelhecimento, vais ser sempre infeliz, porque isso vai acontecer de qualquer maneira."
"E, Mitch?"
Baixou a voz.
"O facto é que vais mesmo acabar por morrer."

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