terça-feira, 7 de maio de 2013

Quando as crianças já não o são

Há alguma coisa de saudável numa família em que a criança deixa de ser criança? Quando isto acontece os problemas têm que existir como quando os adultos insistem em viver no mundo de conto de fadas. Não sei se na mesma medida, mas o mundo vira-se ao contrário, ai vira, vira.

Por ter uma família daquelas consideradas de crianças, há sempre um puto a nascer, com mais ou menos anos de intervalo, o conceito de casa cheia, festas com guloseimas, migalhas por todo o lado e berros estridentes que convidam os adultos a irem conversar para outro lado, é verdade absoluta. Com mais ou menos sapatadas, mais ou menos castigos e mais ou menos boas educações, as crianças lá de casa sempre foram equilibradas. Quer dizer, não há nenhuma a ganhar milhões por ano, a ter a sua própria linha de roupa, maquiagem, com dentes falsos, cabeleiras e sapatos de salto alto. E por mais que tente encaixar isto, a verdade é que estou a ter uma dificuldade enorme. E diz-me, algures por aqui, este meu bom senso, que as crianças têm apenas uma coisa com que se preocupar: ser isso mesmo, criança - que lá no mundo deles deve dar muito trabalho.

E esta conversa toda vem a propósito de quê? Pois muito bem. Ontem conheci uma menina americana, através das notícias e dos jornais, espanhóis e portugueses, que participa em concursos de beleza. Melhor dito: ontem conheci uma mãe, que inscreve a sua filha em concursos de beleza. E digo, é um mundo impressionante. Entre produções dignas de concurso Miss Mundo, a verdade é que parecem adultas num tamanho estranho, mesmo com os tacões, com o batom e os dentes todos, não há magia nenhuma que as faça ter corpo de mulheres. E os sorrisos são assustadores.

Esta menina, Isabella Barrett, tem 6 anos e já venceu mais de 50 concursos. Com uma linha própria de maquiagem e roupa tem uma fortuna avaliada em 1 milhão de euros. Nas suas entrevistas, com pose de estrela, e segurança própria de quem já trata as câmaras por tu, diz que não come hamburgueres nem gosta de batatas fritas: nos hotéis de 5 estrelas, os pedidos são bem mais gourmet, tem preferência por lagosta.

Quando lhe perguntam se gosta de fazer o que faz, responde "o que há para não gostar?". 

Não sou mãe mas pretendo, um dia destes, trazer uma criancinha ao mundo. E com as poucas certezas que tenho da vida, com essas parentalidades positivas e teorias sobre psicologia infantil, a minha cria terá tudo que lhe pertence por direito: brincadeiras na lama, buracos na boca pela falta de dentes em forma de baliza, sapatos sujos, nódoas por todo o lado e brincadeira, muita brincadeira.

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