Mas, já quase tendo perdido a esperança de me identificar minimamente com o desporto-divertimento-forma de vida-eh lá touro-, que os espanhóis tanto dignificam e defendem eis que há uma forma, no meio de tantas outras, que afinal me diverte, me faz rir e até acho alguma piada: os encierros (não sei como se traduz). São um costume, tanto por Espanha como na América Latina, e basicamente consiste num grupo de homens que corre (à frente, por trás e pelos lados) com uma manada de touros, o mais próximo possivel mas sem chegar a tocá-los.
É fácil perceber porque me diverte e porque não mudo imediatamente de canal, que é o que faço normalmente quando sou premiada por imagens com touros e humanos. Aqui, nos encierros, animais e homens, estão lado a lado, durante um ou dois minutos, e correm - se correm - caem, uns magoam-se, outros ficam para trás, e quase nunca há feridos graves. Mas são as caras, dos homens, que acho deliciosas. Olham para trás, com os olhos arregalados, como se fugissem da sogra que acabou de descobrir que afinal não há genro perfeito para ninguém, ou da mulher, furiosa, que acabou de descobrir a marca de batom na camisa branquinha, imaculada. Quando não podem fugir mais, porque é isso que fazem, giram, rapidamente, para a esquerda ou para a direita, e enfiam-se numa cerca, que está ali para os proteger, dos touros que são obrigados a mostrar a sua imponência se alguém se atravessa no seu caminho. Faz-me lembrar a altura em que brincava às caçadinhas, havia sempre um sítio que era a casa, uma vez chegada aí, já ninguém me podia tocar para me apanhar. E é essa, exactamente essa, a cara dos corredores: cansados, cheios de adrenalina, quase gritam "CASA", não me podes tocar.
Houvesse umas corridas assim, com os touros como políticos, e os corredores como políticos, e eu divertia-me bem mais a ver televisão.
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