quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Não sou de piropos

Nunca fui pessoa de ter insónias. Nem nunca fui pessoa que deixe o seu sono de beleza por problemas daqueles do dia a dia que à noite parecem enormes mas que depois, com outra luz, com outros olhos e um novo pequeno almoço voltam a ganhar uma dimensão mais normal, mais realista. Nunca me aconteceu - e que continue assim - não dormir porque fiquei a pensar nisto ou naquilo, naquele ou naquela. Tenho os meus pesadelos, tenho as minhas inseguranças, alguns ataques de ansiedade (que não são bem ataques mas que até podiam ser) mas normalmente durmo bem, menos do que queria, mas bem - dizem que as horas de sono vão reduzindo com a idade e como eu não quero que isso me aconteça tão cedo, que fique claro, claro como água cristalina que isto não é uma queixa, just a point of view, não vá andar por aí uma ave rara do além achar que eu devia era saber "o que é bom para a tosse". 

Mas hoje, vá-se lá saber porquê não consigo (ainda) adormecer e portanto ponho-me a divagar. E a ler notícias, e a abrir e fechar o facebook e a jogar clash of clans, e a ler outros blogues, e a passear este meu cérebro por assuntos que achava que não me iam despertar nenhum interesse mas que afinal, afinaaaaallll não é bem assim. 

Ora o assunto piropos na rua a mulheres/raparigas/crianças está a tentar ser assunto passível de ser discutido e revisto pelos mui nobres senhores que tomam conta deste país. Mas infelizmente a coisa já nasceu torta (o debate) porque a escolha da palavra piropo é descabida e quando o peixe morre pela boca, não há nada a fazer. Entorna-se o caldo, fecham-se as cortinas e o teatro acaba mesmo antes de saírem actores e figurinos deixando todo um público sedento de espectáculo, entregue à especulação, ao ridículo da adivinha. 

É que esta coisa dos piropos tem que se lhe diga. Para alguns. Para esses alguns, que deixam à partida de ter interesse, um piropo pode até ser uma forma brejeira de elogio. Quem não gosta de ouvir um piropo? Quem não quer ouvir um piropo se o piropo pode fazer com que um dia merdoso se torne num dia soalheiro, cheio de luz, brilhante. Mesmo que o piropo seja "oh filha, comia-te toda" ou "anda cá que o pápá ensina-te umas coisas" ou "oh boneca, nem sabes o que te fazia". E outras coisas que não me apetece escrever agora mesmo sob pena de isto se tornar um texto pornograficamente insuportável. 

A sério? A sério que isto pode ser considerado um elogio? Queremos todos acreditar que eu tenho que ouvir o que qualquer pessoa me diz na rua, porque lhe apetece? Que tenho que fingir que não ouço, acelerar o passo e, da próxima vez, escolher outro caminho ou outra saia, ou outra camisa, ou outra cara? 
Talvez tenha encontrado a resposta para todos os piropos que me possam surgir e talvez não seja a mais delicada, talvez não seja a que é suposto, mas também, um piropo, não é só um piropo. 

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